Encanto de bailarina
Se ergue altiva a bailarina
em passos suaves e elegantes
parece ave de rapina
expressa com o corpo a paixão dos amantes
num encantador ballet suplicante
Se pudesse voar, certamente alcançaria
as nuvens na amplidão do céu
e de lá então sorriria
com as sapatilhas atadas aos pés
bailando em plena harmonia, ao léu
Soltei o verbo
Cansei de emudecer segredos
de soterrar meus medos
Cortei o pulso
abri a veia dos desejos
dei vazão aos meus impulsos
Não quero mais o amor em lampejos
Quero a vida escancarada e nua
esparramada como a luz da lua
no solo arenoso dos sentimentos
Quero viver intensos momentos
Levitar ao som melodioso dos meus pensamentos
numa liberdade arrojada
por bailarinas esvoaçantes, adornada
* Criaturas da noite *
Mais um dia agonizou
O crepúsculo se despede
com suas franjas douradas
Uma pequena estrela despertou
no céu que aos poucos eclode
em tons de anil, com veias azuladas
Pensamentos vagam
como criaturas da noite
Não sofrem do tempo o açoite
Não se cansam, não querem repousar
Perdem-se no marfim do luar
* Compasso da espera *
Ando calejada
como as areias do mar
ferida pelas ondas
que desembocam na enseada
Placas de sal no coração
Rochas desgastadas
Erosão
Enquanto o tempo passa
Dentro de mim
Mar de lágrimas
LEMBRO-ME DE TI...
Lembro-me de ti,
A todo instante...
Noites, manhãs,
O dia inteiro...
O pensar em ti,
Nunca é ligeiro...
O te lembrar,
Nunca é demais...
Lembro-me de ti,
A todo instante...
Na cama, na rua,
No trabalho...
Em qualquer lugar,
A qualquer hora...
Lembrar de ti,
Nunca é fugaz...
Lembro-me de ti,
E fico triste...
Por estes sonhos
Tão antigos...
Por estes devaneios,
Conflitantes:
Aceitar que, hoje,
Somos amigos...
Lembrar que, ontem,
Fomos amantes...
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OBSESSÃO...
Mesmo que não fosse,
Assim seria...
Aquela obsessão, aquela busca
Daquilo que ficou, um dia,
Perdido de maneira tola e brusca,
Num beijo quase doce...
Mesmo que não fosse,
Assim seria...
Aquele algo mais, aquela falta,
Um grito de amor em agonia,
Suspiro apaixonado em voz alta,
Gemido que a fria brisa trouxe...
Mesmo que não fosse,
Assim seria...
Uma lembrança, um gesto vago,
Um beijo quase doce...
Uma esperança que ficou vadia,
Uma fuga (do último afago),
Daquilo que seria,
Mesmo que não fosse...
****
Pra que chorar
Para que chorar,
Por um amor perdido;
É sonho do passado,
(Ou, caso esquecido)
Um passo que foi dado...
Para que chorar,
Por um amor perdido;
É beijo já roubado,
(Ou, coração partido)
Foi um risco calculado...
Para que chorar,
Por um amor perdido;
É barco naufragado,
(Ou, livro que foi lido)
Um romance ultrapassado...
Para que chorar,
Por um amor perdido;
A chance já foi dada,
(O peito foi ferido)
É um sofrer, por nada...
****
SAUDADE...
Saudade...
Uma espiral de fumaça,
Que deixa no ar um traço;
Um corpo querendo amor,
Sedento por um abraço...
Duas lágrimas diferentes,
Rolando no mesmo rosto;
Gotas frias, gotas quentes,
Cada uma com um gosto...
Um suspiro, um gemido,
Um pensar - não sei o quê;
A busca de algo querido,
E um desejo: ver você...
****